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OLHO NO FUTURO

13 Mai

Dos esportes de aventura aos brilhos e volumes, as coleções internacionais de inverno 2021 refletem otimismo em roupas pensadas para celebrar o fim da pandemia. Confira aqui as principais tendências da temporada . Ilustração por Pedro Nekoi.

Após um ano de pandemia e isolamento social, é justo dizer que ninguém mais aguenta as roupas de ficar em casa – e a temporada internacional de inverno 2021 é o maior exemplo disso. Com uma profusão de casacos agigantados – dos esportivos aos mais glamourosos – e brilhos e pelos de todos os tipos, as novas coleções parecem ter sido pensadas para um momento pós-confinamento, na qual colocaremos nossos looks mais extravagantes para jogo. Em formato 100% digital, as apresentações refletem tanto um sentimento de exaustão e ansiedade – com camadas e camadas de roupas, usadas todas juntas –, quanto uma vontade de se conectar com a natureza e de se proteger, ao mesmo tempo em que queremos nos mostrar. Aqui, trazemos as principais tendências da temporada de inverno 2021 e como elas podem funcionar para você nesse período de distanciamento.

OLIMPÍADAS DE INVERNO

O desejo de viajar e desbravar a natureza permeia muitas coleções da temporada internacional, especialmente a da Miu Miu, de Miuccia Prada, que escolheu Cortina - um resort de esqui de luxo localizado nos alpes italianos - para o cenário de seu desfile virtual. No show, uma série de jaquetas acolchoadas oversized foram combinadas com calças de snowboard igualmente amplas, em um visual aventureiro glam, mas que também vai muito bem na cidade – com algumas adaptações, como trocar a parte de baixo por um jeans, por exemplo.

Na Balmain, o mesmo mood esportivo e de vestir-se para o extremo foi traduzido em roupas de nylon matelassado, arrematadas por maxicasacos bem volumosos, e até uma versão deluxe do travesseiro de pescoço que se usa em avião, outro indício de que sairemos da pandemia direto para o aeroporto mais próximo. A Louis Vuitton também aposta na vibe das megajaquetas e as coordena com vestidos e botinhas, em um visual cool e urbano, enquanto a Pucci aplica suas icônicas estampas na peça, um hit da temporada.

O melhor dessa tendência é que os maxicasacos extrapolam em conforto e são quentinhos como um abraço (algo de que muitos estão precisando nesse momento). Além disso, eles podem ser combinados de diferentes formas – com calça de moletom, skinnies ou até vestidos mais trabalhados –, tornando-se um curinga do closet invernal.

BRILHA, BRILHA!

Como Caetano Veloso já cantou, gente é pra brilhar – e, após um ano de isolamento social, estamos mesmo querendo e precisando. Para quem está nesse mesmo mood, há muitas opções nas novas coleções internacionais para saciar o apetite por brilho e glamour. Na Prada, os estilistas Miuccia Prada e Raf Simons cobriram casacos com lantejoulas, enquanto a Louis Vuitton e a Armani propõem um visual mais festivo, para quem está saudoso de uma boa pista de dança. A Miu Miu levou os brilhos às montanhas para fazer um contraponto com o clima esportivo da coleção e provar que podemos, sim, reluzir em qualquer ocasião.

A ideia é se vestir para ser notado, de dia ou de noite, dentro ou fora de casa. E se o momento ainda é de restrição, por que não apostar nos brilhos para dar um up no look da reunião de Zoom, ou mesmo levantar o seu próprio ânimo, numa produção bem ousada com paetês dos pés à cabeça? Também vale brincar com texturas – como um couro metalizado ou pelos -, investir em peças que tenham apenas alguns detalhes brilhantes ou fazer um mix com roupas esportivas para um resultado hi-lo. O mais importante é escolher algo que realmente tenha a ver com o seu estilo e personalidade.  

AI, QUE FOFO!

Está chegando a hora de abrir espaço no closet de inverno para os pelos – fakes, por favor –, que estão por todos os lados nesta temporada. E não estamos falando apenas de casacos. Apesar de serem os mais vistos, a tendência vai além das roupas e arremata também os acessórios, com destaque para os calçados, como vimos nas apresentações da Chanel, Coach e Miu Miu.

No quesito roupas, quem sai mesmo na frente é o casaco, em diferentes versões: na Fendi e na Armani, o tom é de extravagância, com modelos grossos e diferentes comprimentos. Com uma pegada diferente, Balmain, Isabel Marant e Coach revisitam os anos 1970 com as clássicas jaquetas de pelo e camurça, um bom investimento para quem gosta de roupas atemporais. Se você é do time das mais discretas, há opções em cores neutras e menos volumosas, ideais para uma produção chique e sutil. Agora, se o desejo é causar impacto, as estolas da Prada são uma ótima pedida, assim como a jaqueta oversized com pelo estampado em preto e branco da Louis Vuitton, um sonho de consumo de qualquer fashionista.  

THESE BOOTS ARE MADE FOR WALKING

Nessa onda de olhar menos para as necessidades do momento e mais para o futuro, as botas voltam com força total, já que a maioria das marcas está apostando que, daqui a seis meses, quando esses produtos chegarão às lojas, a vida (pelo menos a das pessoas no hemisfério norte) estará de volta ao normal – ou algo parecido com que vivíamos antes da pandemia. E, no universo dos calçados, isso significa sapatos e, de preferência, botas, afinal estamos falando da estação mais fria do ano. A maioria dos designers investiu nos modelos de cano alto – alguns até ultrapassando os joelhos, como vimos na Dior –, variando entre um estilo meio punk fetichista, com amarrações e texturas envernizadas (Armani e Simone Rocha são exemplos), e outro mais clássico, com opções de couro liso marrom, off-white e vinho, e um bem ousado, com muito pelo e tamanhos amplificados (alô, Chanel e Miu Miu!), para as diferentonas de plantão.  

TRAMAS MIL

Sempre confortáveis, os tricôs e crochês também ganharam os holofotes na temporada internacional e são peças-chave do guarda-roupa de transição entre o look caseiro de moletom e a produção completa do dia a dia que tanto queremos de volta. São tão diversas as opções que somente na Balmain, por exemplo, há tanto uma versão sexy, ajustada ao corpo, quanto uma oversized amarelo fluo, bem fashionista. Na Fendi, agora liderada pelo estilista Kim Jones, os tricôs são minúsculos e lembram os biquínis, mas ganham ar fashion quando combinados com maxicasacos, saias lápis e calças de cintura alta com shapes mais soltos.

Miuccia Prada, que é mestra no estilo geek chic, mistura tricôs estampados com vestidos fluidos na coleção assinada ao lado de Raf Simons para a Prada, e investe nos crochês para injetar conforto e uma vibe relax aos looks maximalistas da Miu Miu. Já a Coach preferiu olhar para o lado mais pop da moda com desenhos de corujas e dinossauros, enquanto Simone Rocha cria um diálogo punk entre tricôs e harness de couro preto com pedrarias aplicadas. 

PATRICINHA, EU?

Parece que alguns estilistas andaram reprisando o clássico “As Patricinhas de Beverly Hills” neste ano de confinamento, pois o estilo preppy da Cher (personagem de Alicia Silverstone) reapareceu nas coleções internacionais, mas com um detalhe: a patricinha entrou em uma máquina do tempo direto para 2021, trazendo suas peças para o agora. Em vez do xadrez tartan, temos uma gama de conjuntinhos lisos de alfaiataria em tons de preto e cinza.

Na Burberry, a minissaia plissada foi substituída por uma bermuda com aberturas frontais e uma segunda pele dourada, no melhor visual genderless chic, enquanto a Armani optou pela calça para fazer par com o terninho curto preto. Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da Dior, preferiu a saia godê e arrematou o look com botas pretas de couro, dando um ar edgy ao estilo que é geralmente mais comportadinho. Pelas mãos de Stuart Vevers, da Coach, a influência preppy se traduz em um combo de tricô, camisa xadrez e calça reta, em que cores, materiais e padronagens se misturam num combinado descombinado, bem do jeito que a Geração Z gosta.  

MAIS É MAIS!

Essa tendência com certeza dividirá opiniões, já que para alguns, volumes amplificados não favorecem a silhueta, mas fato é: as modelagens amplas estão com tudo. Os principais players da moda mundial estão seguindo o mesmo caminho e provando que é possível arrasar com um look bem folgado. Basta olhar para o desfile da francesa Isabel Marant, que transforma um blazer oversized de shape quadrado em minivestido, equilibrando as proporções e deixando tudo mais sensual. Simone Rocha usa a mesma fórmula, com bastante volume na parte de cima e pernas de fora. Balmain e Armani também seguiram caminhos parecidos com longos trench-coats de ombros exagerados, mas enquanto a primeira aumenta o volume da ousadia num look total rosa, a segunda prefere a sobriedade do preto. Já a Louis Vuitton, liderada por Nicolas Ghesquière, joga com os volumes sem medo de ser feliz, com camadas de roupas e tecidos, e até um casaco casulo, tão amplos que daria para morar dentro. E talvez seja essa a grande ideia por trás da tendência: roupas que possam dar abrigo e proteção em tempos tão difíceis.  

Ilustração por: Pedro Nekoi


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